quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Bumbum paticumbum prugurundum!

Veja como o Brasil está diferente (quem sabe até melhor, cof! cof!): depois do sono dos justos de ontem, acordei hoje para ler por aqui que todo mundo (ééé, ~ todo mundo ~) agora quer ser funcionário público, mesmo quem nunca tenha ligado pra isso, nem mesmo adentrado em um prédio público (fiquei com medo de falar "repartição" e ouvir um "mas repartição não é o ato de dividir o HD do computador em várias partes?"). Gente que só entra em prédio público quando é pra votar - e olhe lá, afinal, tem sempre um colégio ou uma faculdade particular servindo de zona. Faculdade e colégio virando zona, vai vendo... Mas, digo... tá tudo certo, né? Digo, penso, fecho os olhos e... Hei!: agora até quem é pelo Estado-mínimo, pela família papai-mamãe & mamãe-papai, meritocracia, propriedades que couberem no dinheiro, pelos bons costumes e gostos e blá blá blá resolveu se manifestar contra as cotas no setor público. É ou não é o grande desejo de ser funcionário público incubado? É, sabemos que não. Na verdade, sabe o que é? É mais uma de nossas jabuticabas: gente que não está nem aí para muita coisa ("coletividade do eu primeiro"), nem aí para o setor setor público, mas, olha, preto, pretinho, escurinho, lá? Nem pensar, viu? Além do mais, somos todos misturados. Você sabe, aqui em nosso Brasilzão de meu Deus é essa mistureba toda. Cores, raças, castas, crenças: riquezas são diferenças. Mas só na música dos Titãs. Aliás, isso é uma música? Música é a nossa cara. Bumbum paticumbum prugurundum! Todos somos ~ ricos em espírito ~  e, vou te dizer, não somos racistas, nunca fomos. Como poderíamos ser? Somos tudo misturados, pô! A prima da menina que é diarista na casa da minha tia - sim, aquela que veio lá do interior e que come e dorme sem pagar coisa alguma - tem um filho de olho azul. Lindo o menino. Isso não é lindo? Diz aí! Inclusive, a mistura é tão grande que a gente pode chamar todo mundo que vem do Nordeste de baiano ou paraíba. É ou não é tudo a mesma coisa, tudo junto e misturado? Isso tudo é porque querem transformar este país n'uma Cuba. Já vieram os médicos e agora eles vêm com esse negócio de negros a trabalhar. Olha, inclusive, os médicos de lá são tudo pretinho... Tem alguma coisa aí, viu? Tem ou não tem? Olha o golpe! Isso é esquerda caviar. É, esquerda caviar, sabe como é? É aquele pessoal que vive no nordeste e adora ar condicionado. Esse povo não tem jeito. Adora mordomia. Adoro uma mamata. Adora uma bolsa. Bolsa-Família, Bolsa de estudos, "Bolsa Minha Casa, Minha Vida"... Mas a gente é feliz como um todo, viu? A gente tem essa "coisa feliz" dentro da gente, sabe? Esse treco mágico que faz a gente ser sorridente, mesmo que seja banguela de dente e de algo ~ que dê "sustança" ~ no estômago. Somos todos iguais. Insisto. Não viaja em dizer o contrário! Somos tão iguais que nem nos preocupamos em ver que somos uns mais iguais que os outros. Li uma vez que "Não se vê o que não existe". Não sei se foi a Clarice Lispector ou o Caio Fernando Abreu quem disse. Aliás, é Lispector ou Linspector? Eu sempre me confundo. Em todo caso, acho que ficar citando ela ficou meio fora de moda, né? Perdeu a graça. É que nem quando o pessoal do Orkut veio pro Facebook, que nem quando o Instagram aceitou o povo que usava o Android... Virou bagunça. Acho que vou dizer que foi um tal de Leminski quem disse. Ele tá com tudo, né?

Uma coisa curiosa: lá no serviço público não só tem gente incompetente? Se falar naquele pessoal que só tem ensino superior (quem sabe é só o médio?), mas ganha mais que um professor-doutor. Ganha mais e trabalha menos. Marajás. Ah, como deve ser bom ser funcionário público! Esse povo quer é moleza. Adora um jeitinho. Ô povo pra gostar de jeitinho, viu? Não somos o país do jeitinho? Ô, se somos! Por falar neles, que mal faz aceitar um bando de pretinho pelas cotas, um navio negreiro - um camburão pré-moderno - a mais não vai fazer muita diferença. Ou vai? É. Cotas para raças é burrice: esse povo não estuda porque não quer. É preguiçoso. O que esse povo gosta mesmo é de vagabundar e vir ganhar uns trocadinhos, umas moedinhas. Às vezes, acho que eles gostam mesmo é de ficar vigiando o carro e, de repente, surgem com aquele prazer que só quem gosta de ficar debaixo de um Sol escaldante por horas a fio sente. Flanelinha é abusado, né? Onde já se viu? A rua é pública. Eu pago imposto. E muito, viu? Odeio flanelinha! Pega o nosso dinheiro e vai logo beber cachaça. O governo deveria fazer alguma coisa, sei lá, revitalizar esse centro. No centro só mora vagabundo e viciado, sabia? Tudo perdido no crack. Esse povo gosta mesmo é de invadir a casa dos outros. A pessoa demora tanto pra conquistar algo, muitas vezes recebe de herança, e tá aí, um monte de drogado invadindo a casa que tava fechada, mas prontinha para receber alguém. É um absurdo! O governo tem de fazer alguma coisa. Não existe oposição neste país? Nossos políticos são tudo vagabundo. São todos iguais. Esse povo aí das cotas, hum, acho que esse povo tem talento é para vigiar carro. Vigiar carro ou bater pandeiro. Viu o programa da Regina Casé? Só tem batedor de pandeiro. E tem até um gari lá. O rapaz até samba direitinho... Pôxa, merecia uma chance na vida. Não conheces ninguém que possa ajudá-lo num estágio ou coisa do tipo? De repente, pode ser algo na área de serviços gerais, né? Acho que ele aceita. Ele trabalha com limpeza, tem experiência... Por essas e outras, então, odeio cotas. Acho que as cotas precisam considerar a questão social. Porque não tem só preto pobre, sabe? Hoje tem branco pobre, sabia? É, pois é. (o que não muda mesmo parece ser a pobreza...) Ainda demorarão muito para dizer que tudo isso é artimanha da propaganda lulo-petista? A essa tal de Dilma, essa terrorista! Dilma, dilmalandrinha. Pois façamos assim: toda vez que alguém borrifar ser contra as cotas, você pergunta: "na tua escola tinha quantos, rapá?". Não se esqueça de salientar que não vale incluir nem o "tio da lanchonete", nem o "tio da limpeza", nem o "tio do portão". Adianto: você deve esperar a resposta-padrão: "Tinha alguns. Mas esse nem é o ponto. Eu acho que a pessoa deve conquistar o que quiser com esforço próprio". Aí você respira, que ninguém é de ferro. Respirar faz bem. A seguir, tente ponderar: "Ok! Todo mundo deve conquistar suas coisas mesmo. É um prazer único conquistar o que a gente quer, não? Mas, me diz uma coisa, na tua opinião, largamos todos do mesmo ponto? Ou há alguma diferenças, digamos... entre raças?". Estique as pernas como se tivesse na praia, mesmo que você esteja num cubículo, diante de uma mesa, um computador e uma parede tranquila como a cor pantone do ano rerereretrasado - era um sucesso, né? Deixou a sala tão... clean. Relaxe. Os ouvidos, sobretudo. Tente ouvir. É possível que responderão algo como: "Olha, eu acho que raça nem existe, mas... o que eu acho mesmo é que a pessoa tem de conquistar com seu esforço. Tem de se dedicar. Tem de ter fé. Tem de trabalhar. Tem de correr atrás. Somos todos iguais. Não nascemos com duas pernas, dois braços, dois olhos? Todos temos a mesma chance! A solução é a educação". Você respira de novo, pois sabe que a solução é a educação, aquela que possivelmente você recebeu e se nega a admitir a remota possibilidade de que o outro não a recebeu, ou mesmo a recebeu pela metade, justamente a metade podre. Depois de tudo, se você tiver ainda tiver um naco de paciência, sugiro tentar perguntar se é coincidência ou não que as cadeias brasileiras estejam apinhadas de um monocromatismo de dar dó. (se der, cite a cadeia americana, que está na mesma situação. Isso é bom. Mostra que você é um cidadão do mundo, globalizado, antenado. Na verdade, é chique de vez em quando citar algo dos Estados Unidos, sabe? Anyways...). No fim, depois de tudo, eu te garanto: bom mesmo é dormir. :)

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